segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O bisão de Manitoba

Segui para Winnipeg com algumas boas dicas gastronômicas. Lucky Schnitzer, da Personal Brasil, um especialista em Canadá, me apontou quatro ou cinco endereços. Claro que não daria tempo de ir a todos, até porque o tempo de permanência na cidade seria curto e ainda havia a programação familiar, almoço aqui, jantar ali, a noite de Natal, o almoço do dia seguinte...
Mas segui as dicas que o tempo permitiu e especialmente em uma delas fiquei fascinado: Resto Gare. Uma boa comida francesa – Lucky me disse. Boa? Ótima, um dos melhores restaurantes dentre os tantos em que já estive entre os tantos cantos do mundo que já frequentei. Não arriscaria uma classificação direta e fria, mas se forçasse a barra poderia até ousar incluir entre os Top 5. Sem qualquer exagero.
O chef se chama Jamie Snow (claro que sem nenhuma referência ou trocadinho ao branco total lá de fora naqueles -13C que faziam naquela noite) e está mais para a cozinha clássica francesa, embora se permita alguns arroubos em determinados pratos. Estávamos em cinco e exceto por uma pessoa que preferiu ficar apenas no sanduíche (que o cardápio também oferece), todos os demais adoraram tudo o que foi à mesa, prato a prato, da entrada à sobremesa.

Pedimos um Chateau Pesquie Les Terrasses 2008 ($ 35, mas $ 15 na liquor house) (como é barato o vinho francês no Canadá!) e começamos a delirar a cada nova sensação de paladar, com a chegada das entradas.  
Escargots casserole.

Escargot Casserole (escargots salteados com batatas, echalotes, redução de vinho tinto e torradinhas de alho - $ 10), que estava com temperos bem equilibrados, sobressaindo-se o vinho, mas sem sobrepor sabor aos escargots.
Champignon fricassée.

No Champignon fricassée (Cogumelos salteados com tomilho, vinagrete de alho negro, pão grelhado e queijo parmesão raspado - $ 10) elogios totais à textura e ao sabor dos cogumelos, bem como ao ponto das torradas.
Coquilles Saint Jacques.

Mas o ponto alto das entradas foram as vieiras. No cardápio, o nome simples e básico: Coquilles Saint Jacques. Mas já conhecíamos as vieiras canadenses, os scallops, imaginamos o melhor. E foi melhor ainda. Pra começar eram vieiras enormes, daquelas que só existem por lá e que devem ser cortadas em quatro para irem à boca. E chegaram gratinadas em queijo gruyère, sobre um chantilly de batatas com trufas negras - $ 12. O marcante e insuperável sabor das trufas estava na medida, o suficiente para se exibir sem atropelar as delicadas vieiras. Inesquecível!
Passamos aos pratos principais.
Filet Mignon.

Exceto por um Filet Mignon (peça certificada de red angus, de 200g, ao ponto, também sobre um chantilly de batatas com trufas negras, mais molho bordelaise e legumes da época - $ 27) muito saboroso e sem qualquer restrição, os demais presentes pediram o mesmo prato: Bison Manitobain - $ 27. Já estava nos planos desde o Brasil, pois o bisão – aquele boizão barbudo - é o símbolo do estado de Manitoba e da região de Winnipeg e, na mesa, a melhor representação local. Quem pediu não se arrependeu.
Bison Manitobain.


Eram tenros nacos de short ribs (um corte da costela, sem osso) também com o molho bordelaise em redução de amoras, sobre purê de batatas e aspargos frescos cozidos al dente. A carne lembra muito a bovina, mais a de búfalo, tem um toque ligeiramente adocicado e é saborosíssima. O tempero do chef pode ter contribuído, mas o registro de paladar do bisão certamente já ocupa lugar de destaque em minha memória de agradáveis sabores.
Para sobremesa, uma Maple pie, apresentando outro produto típico do país. E esse ainda mais forte, pois uma folha da árvore de maple é o símbolo oficial do Canadá, com destaque em sua bandeira nacional. O maple syrup é aquela delícia que se derrama sobre as panquecas e os waffles nos cafés matinais (ou em outra hora do dia, conforme o gosto de cada um). A torta de maple foi o fecho ideal para uma noite mágica, como não seria de se esperar da gastronomia canadense.
Emily, a simpática garçonete, nos traz a Maple Pie.


O Resto Gare fica no bairro francês de Winnipeg, St. Boniface. E foi construído em torno de um vagão de trem (gare, em francês, é estação de trem), muito charmoso, com suas mesinhas arrumadas em ordem de um vagão-restaurante. É de se voltar sempre para nós, que já fomos. E de se ir para quem precisava de um motivo para conhecer Winnipeg.

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