Sou implicante, sei disso. Mas alguém me disse um dia que com o passar da idade temos direito a algumas posições que não tomaríamos na juventude. E assim decretei uma persistente desconfiança aos grandes buffets. Às vezes nem pelo que possam me incomodar diretamente, mas por observar as pessoas saindo com aqueles pratos enormes, misturando estrogonofe de carne com camarão abraçadinho, lombinho com frutas, risoto e macarrão. Tudo no mesmo prato. Que sabor final terá isso? É como ir naqueles bufês de sorvetes, todos coloridos, que, quando derretidos no teu prato ficam com aquela cor marrom bem sem graça.
As pessoas, em sua grande parte, são mal educadas em bufês. Até hoje não me sai da memória um casamento chique que fui há muitos anos. Minha filha era pequena, uns seis ou sete anos (hoje já é uma senhora – ih, acho que ela não vai gostar). Fim da cerimônia e sinal verde para o avanço, a avalancha humana rumo à mesa dos pratos. Como abomino filas, deixei passar a primeira leva, dos gulosos. Só que quando imaginei poder ir, lá estavam eles de novo, repondo. Iam e voltavam e aí, preocupado com a fome da filha, resolvi encarar o bufê, pelo menos para salvar alguma coisa para ela, pois tudo indicava que a reposição havia falhado. Consegui uma saladinha, algumas batatas e quando, na vez, ia pegar o último naco de carne que restava na bandeja, a pessoa que estava atrás de mim se antecipou e resgatou-o rapidamente. Com as mãos, pois o talher de servir estava comigo, claro. Mais espantado fiquei ao constatar tratar-se do então Secretário de Justiça do Estado. Resultado: saímos dali e fomos jantar em algum lugar – era um restaurante chamado Vagão do Armistício, montado em um vagão de trem. Sem afogadilho.
Lembrei-me disso ao escolher minha opção de Ano Novo. Estávamos apenas em dois, todos os filhos longe pela primeira vez. Aprecio tanto a criatividade da chef Manu Buffara que decidimos experimentar o Reveillon do Hotel Deville Rayon. O cardápio era de dar água na boca, publiquei aqui - http://anacreonteos.blogspot.com/2009/12/o-banquete-no-reveillon-do-rayon.html. Decidimos encarar, então. Com hospedagem e tudo, para evitarmos tensões no retorno da madrugada.
Pensei que seria coisa pequena, média, algo assim. Palavra que fiquei preocupado ao perceber tratar-se de um jantar para 250 pessoas. Mas, felizmente, quando chegou a hora, tudo de encaminhou da melhor maneira possível. Serviço impecável, com garçons preparados para jamais permitir que algo faltasse à mesa e os integrantes da cozinha preparados para superar toda a possível falta de educação dos comensais. O que seria inevitável num bufê, é claro.
Primeiro vieram os componentes do coquetel (foto), servidos à mesa. Em seguida o bufê foi liberado e nós, mais uma vez, demos o tempo necessário para a correria dos apressados baixar poeira. E foi aí que o pessoal de serviço me ganhou. As pessoas – dessa vez minoria, é verdade, mas sempre tem – vinham com aqueles pratos em formato de pirâmide, com a terrine de legumes escorando o mignon, ao lado do bacalhau e do ravióli de camarão. E com um molho qualquer por cima. Arghhh! O problema era com alguns pratos específicos, como a Salada baby mesclum com redução de aceto balsâmico e camarões grelhados. O que é de se imaginar? Que a pessoa se sirva das folhas e complete com alguns camarões. Certo? Errado. Pegavam apenas os camarões. E aí vinha a brigada da cozinha a repor os camarões a todos instante, conforme o grau de educação da leva que se servia. O mesmo se deu com a Posta de bacalhau com mini batatas e pancetta. Cadê o bacalhau? Um olhar pedindo socorro e lá vinha a atendente, toda solícita, repor o elemento principal do prato.
Da mesma forma como ficaram espertos e atentos com a desenfreada invasão à mesa de sobremesas. Não foram poucos que vieram com o prato de jantar em uma das mãos e um amontoado de docinhos em outra, como se o mundo fosse se acabar dali a instantes e não mais houvesse sobremesa para todos os presentes. Mas a turma do serviço estava lá, atenta, informando aos preocupados viventes que tentavam seguir a sequência normal do jantar haver uma reserva técnica já prevista para casos assim. E, no fundo do fundo, todo mundo se deu bem. Os gulosos e apressados, que atropelaram a comida e depois ficaram mais de uma hora olhando um para o outro sem ter o que fazer até que a meia noite chamasse o grande brinde da virada. E os, digamos, normais, como nós, que só queríamos aproveitar e saborear o fruto da criatividade da chef Manu Buffara.
Foi tudo ótimo, felizmente. Os profissionais envolvidos no evento se esmeraram em tentar chegar ao melhor e conseguiram. Comida de primeira, um ambiente agradável (apesar de alguns maus exemplos no bufê, pessoas comportadas e nada inconvenientes) e uma passagem de ano para se curtir, sem maiores amolações. Apenas uma sugestão para melhorar ainda mais: um upgrade na opção das bebidas. Havia uma primeira, apenas com refrigerantes; outra logo acima, com refris e cerveja e uma terceira, com espumante, uísque e vinho. Eu incluiria uma ainda acima, com espumantes e vinhos em um nível superios. É que eu não sabia que havia a opção de pagar rolha, com certeza teria escolhido essa. Mas é apenas um reparo, nada que empane o brilho da ótima noite do Rayon.
Oi Xavier...também odeio gente deselegante. Mas, e como tem destes tipos por aqui, heim?
ResponderExcluirFeliz 2010 pra vc e família...vamos juntos!
Beijos, Márcia